domingo, 20 de abril de 2008

sapatinhos vermelhos


Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina - ela repetiu olhando-se bem nos olhos em frente ao espelho. Ou quando começa: certos sustos na boca do estômago. Como carrinho de montanha-russa, naquele momento lá no alto, justo antes de despencar em direção. Em direção a quê? Depois de subidas e descidas, em direção àquele insuportável ponto seco de agora.
...
você sabe tão bem quanto eu, talvez até melhor, a que ponto de desgaste nosso relacionamento chegou. Devia falar desse jeito mesmo com os alunos, impossível que você não perceba como é doloroso para mim mesmo encarar esse rompimento. Afinal, a afeição que nutro por você é um fato.
Teria mesmo chegado ao ponto de dizer nutro? Teria, teria sim, teria dito nutro&relacionamento&rompimento&afeto, teria dito também estima&consideração&mais alto apreço e toda essa merda educada que as pessoas costumam dizer para colorir a indiferença quando o coração ficou inteiramente gelado. Uma estalactite - estalactite ou estalagmite? merda, umas caíam de cima, outras subiam de baixo, mas que importa...
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Vermelhos - mais que vermelhos: rubros, escarlates, sanguíneos - com saltos finos altíssimos, uma pulseira estreita na altura do tornozelo. Resplandeciam nas suas mãos. Quase cedeu ao impulso de calçá-los imediatamente, mas sabia instintiva que teria primeiro que cumprir o ritual.
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no mesmo tom de vermelho dos sapatos, mais tarde desenhou melhor a boca, já dentro do vestido preto justo, drapeado de crepe
Caio Fernando de Abreu

2 Comments:

Thais said...

pergunta: vc ja tinha lido isto antes da noite passada?

Êta lêle! Não tenho nada a acrescentar... Aliás, só uma coisinha: ressaca de champagne é bem melhor do que de chopp!

Beijos

Anônimo said...

Menina!!!
Caio virou febre nos blog´s!!! Amodorei o texto e hummmm...me deu uma boa ideia para a noite.
hehehehehehehehe

bjs